terça-feira, abril 12, 2011

O país das inevitabilidades


Era inevitável escrever sobre isto. Refiro-me à constante forma de conduzirmos as coisas que as tornamos inevitáveis.


O nosso país, no fundo, é o país das inevitabilidades. O que apenas demonstra que somos um país reactivo e não proactivo. Como dizia Kennedy “As coisas não acontecem. São provocadas”. E é tão verdade. Este fado que nos expõem, num caminho que tem de ser sempre fatalmente trilhado, a que irremediavelmente nos conduzem, geração após geração, num ciclo histórico e vicioso. As decisões erradas que hoje tomamos irão irremediavelmente reflectir-se no futuro. Poder-se-á dizer que é senso comum o que afirmo, mas os factos demonstram que não é prática comum. Será aceitável que, desde que existo, o FMI já esteve aqui 3 vezes? E a resposta conduz a outra pergunta: será que, até morrer, entrará mais?


Sempre que penso sobre isto faço a analogia com a parábola do filho pródigo. Aquele filho que, vendo-se com dinheiro nos bolsos, vai estoura-lo em festas e meretrizes até ficar na pobreza. E, envergonhado por ser tratado abaixo de porco, vem de mão estendida pedir ao pai que, pelo menos, o trate como um seu empregado, tendo o desprezo do irmão sabedor. Assim somos. Assim fomos. E gostaria de acreditar que assim não seremos mais.


Não querendo entrar em ideologias, acredito que no quadro de limitações actual (moeda comum, pertencendo a uma organização como a UE, operando numa economia de mercado e, neste momento, com as restrições que nos serão impostas pelo FMI) a nossa curta capacidade de decisão terá de ser, forçosamente, bem pensada, fundamentada, estruturada e aplicada. Deveremos exigir isso a quem nos governa e deveremos exigir-nos a nós próprios que o façamos na nossa vida. Temos de ser tão exigentes com quem gere o nosso dinheiro comum assim como teremos de ser exigentes a gerir o nosso próprio dinheiro.


Se dentro da liberdade individual, cada um é livre de se governar e arcar com as respectivas consequências, dentro da gestão da res publica essas consequências são divididas por todos. Refiro-me a pequenas coisas como atirar lixo para o chão, porque alguém é pago para apanhar, ou “eu faço assim e quem venha atrás feche a porta”. Mentalidade tão nossa mas que, uma vez mais, leva a inevitabilidades que acabamos todos por sofrer. Um país, uma nação, é um corpo numa tal interdependência que a saúde e a doença de uma parte afecta inevitavelmente a outra. Não é um conjunto de ilhas isoladas.


Aproveitemos os desafiantes tempos que temos pela frente para repensarmo-nos como sociedade. Na mudança de mentalidades e paradigmas que nos regem. Sob pena de, assim passada a tempestade e vinda a bonança, passada a austeridade e nos virmos, de novo, com os bolsos cheios, não caiamos na inevitabilidade de ir o gastar com festas e meretrizes.


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