terça-feira, junho 19, 2012

O fruto da árvore da sabedoria


Há pouco tempo falava com um amigo e desabafei-lhe entrementes “Meu caro, a ignorância é uma bênção”. Conversávamos sobre democracia na europa mas podíamos estar a falar de qualquer tema existencial. Fui, de novo, catapultado para este desabafo num Domingo com o Adão e a Eva, comendo o fruto da sabedoria.

De facto, a alegoria do fruto proibido é uma fonte de inspiração sobre o tema da responsabilidade do exercício de pensar e exercer a liberdade e as consequências que advêm do seu usufruto. Comer o fruto da “árvore” da sabedoria faz-nos compreender que estamos nus, que precisamos de trabalhar para sobreviver e que sofremos fisicamente a nossa humanidade. Em contramão, imaginar que, sem a sabedoria, vive-se num paraíso, no jardim do Éden, em que a vida é fácil e despreocupada, as serpentes não rastejam, os frutos abundam e o hedonismo é só ultrapassado pela ignorância, faz-nos mesmo pensar porque aquela árvore no centro do jardim era tão perigosa.

Mas esse é o preço da nossa liberdade. Comer o fruto, ou não, é um acto de termos sido feitos livres. E se o provamos, independentemente de sermos ou não responsáveis por degusta-lo, se o provamos por iniciativa própria ou se nos é dado a comer, teremos que arcar com a sua consequência que, não é mais nem menos, que a responsabilidade do acto. Todo o exercício da liberdade tem que ser feito sabendo que se o tomamos, tem consequências do qual seremos aquilatados.

Do particular poderemos (necessariamente) partir para o geral. A constituição de sociedades, agrupadas em nações, é um acto voluntário de pessoas, na sua essência, livres, que as constituem e onde a liberdade do individuo não é ultrapassada pela vontade da maioria. Se pertencemos a um país onde a liberdade é real, então somos todos responsáveis por ele. Não é culpa de um grupo específico nem duma classe (não é culpa da serpente nem da mulher). É culpa de todos, que enquanto pessoas livres, fomos feitos responsáveis pelos nossos actos.

Temos maus políticos? De quem é a culpa? Bloga-me isto!