Se
há algo que saiu de “positivo” após as eleições de 2015, foi o destruir alguns
dogmas que a política portuguesa assumia, para reemergir uma nova era das
relações e práticas da nossa democracia.
Faço
um pequeno interregno na reflexão que proponho fazer para explicar o emprego das
aspas na palavra positivo. É certo que já vimos a esquerda portuguesa
unir-se num propósito de “derrotar a direita” em alguns momentos da nossa
democracia, sendo a mais famosa, a eleição presidencial de 1986, em que os
comunistas tiveram de “engolir sapos” para não fazerem parte de uma derrota que
seria histórica, a apenas 10 anos do fim do PREC, com a direita unida (apesar
de ter sido duro perceber que a diferença entre ambos os blocos não chegavam
aos 140 mil votos). Contudo, estas “uniões de conveniência” foram sempre
pontuais e sempre lestas em regressar às profundas divergências que existem nas
“esquerdas”. O que ocorreu em 2015 foi, pela primeira vez, uma “união de
facto”, levada, é certo, pelo instinto de sobrevivência, mas que mudou (atrevo-me
a dizer) para sempre, a geometria possível no parlamento, aparecendo na
esquerda, um pragmatismo que não se lhe conhecia. Dito isto, atesto que sempre
que há uma clarificação, isso é positivo, apesar de ser critico quanto à
forma que o derrotado nas eleições teve nas negociações dúbias com ambos os
blocos, e, claro, quanto ao resultado e às consequências dessa união de
esquerdas (daí as aspas).
Retomando
à reflexão, e após esta inflexão de comportamento entre as esquerdas, o que
alguns chamarão de progresso, daí se chamarem “progressistas”, também se vão
ter de fazer contas à direita. Está visto que um governo minoritário, como o de
Cavaco Silva de 1985, não será mais possível, e que, se a direita quer voltar
ao governo, terá de começar a fazer cálculos de quanto vale. Tanto mais, que as
eleições de 2019, já começaram a mostrar uma tendência evolutiva, diria mesmo
darwiniana, de mostrar como isso se faz. A direita não é una e, assim como na
esquerda, existem várias correntes. Aquilo que resultou do pós-25 de abril da
direita portuguesa, foram 2 partidos que, muito mais que 2 correntes de
pensamento, foram amalgamas possíveis de personalidades de direita. Não
propriamente duas cosmovisões da sociedade. Vejam-se as inflexões que
resultavam no CDS-PP dependendo de quem era o líder, assim como o PSD de Rui
Rio não é o PSD de Pedro Passos Coelho. Com o aparecimento da Iniciativa
Liberal e do Chega, clarificando espaços que estavam “escondidos” nos partidos
tradicionais, a linguagem ideológica vai ser mais importante que nunca para
definir o que é cada partido e o que vale. Mas, mais importante que isso, será
necessário que, ao aclarar o que cada partido defende ideologicamente, quais serão
as soluções aos problemas reais da sociedade que vivemos, e o que esta
clarificação ideológica acarreta. Se assim não for, temo que o português não acredite
que a alternativa se encontre à direita e continuará a votar “no mal menor”, ou
seja, uma esquerda mais “organizada” em termos de valores. Prevejo igualmente que,
como resultado desta purificação, partidos como o Chega, que crescem com os votos
de protesto, percam expressividade pela ausência de ideologia que os suportam, vivendo
à custa do culto da personalidade e/ou no voto “contra-o-sistema”. Bloga-me isto!