A
dualidade do universo é um conceito que me agrada racionalizar, como forma de
explicar o equilíbrio do que nos rodeia. O Yin e o Yang, o Bem e o Mal, a Ordem
e o Caos, o Masculino e o Feminino, a Matéria e a Anti-Matéria, e por aí fora. Podemos
ter as duas forças que são opostas, mas que são complementares em manter a
simetria e a harmonia do visível e do invisível.
Durante
muito tempo sentia que essa harmonia existia no nosso país, ao peso que
historicamente Lisboa tem nas nossas vidas, o contra-peso do Porto para o balancear.
O Absolutismo de Lisboa tinha sempre o Liberalismo do Porto. Os Nobres de
Lisboa tinham sempre os Burgueses do Porto. Receio que esse equilíbrio não
exista mais. Lisboa conseguiu finalmente, ao fim de muitos séculos, silenciar o
Porto e tornar-se absolutista. Em todo o espectro da nossa vida quotidiana somos
confrontados com o peso da capital, quer seja politica, cultural, financeira,
económica, judicial e até desportiva. A camisa de forças tornou-se tão apertada
que conseguiu estrangular a força do Porto e a atitude das suas gentes. A
famosa “guerra” Norte-Sul acabou e foi oficialmente assinado o armistício. E
quem perdeu? Na minha opinião foi o país, que ficou subjugado a uma tirania de
pensamento único.
O
que são feitas das associações empresariais do Norte? O que é feito do peso
reivindicativo da câmara do Porto? O que é feito do Bispo do Porto? O que são
feitos dos músicos da cidade que batiam o pé? O que são feitos dos jornais que
contavam mais do que a declarações da Lusa? Onde estão os presidentes dos
clubes que faziam frente aos “campos inclinados”? Onde estão as gentes que
abriam a boca para dizer mal de Lisboa? Em suma, onde está o Porto?
A
referida “guerra” não era (e continua a ser chamada) saloia porque obviamente
não interessa a quem a rotula. Não é saloia porque a verdade não está só de um
lado. Não é saloia porque existem uns iluminados na capital e no resto do país,
a província, não sabem nem podem saber.
Podemos
dizer que a crise agravou o centralismo e foi, sob a alçada da intervenção
externa, que os poderes se concentraram mais no epicentro da própria
catástrofe. A solução ao problema foi dar ao problema ainda mais a solução. E
assim, a anorexia espalhou-se pelo país, engordando a capital. Pena que o
contágio da doença tenha afectado também o Porto, porque o país precisava dele
mais do que nunca. No fundo, foi o fim da dualidade.
Talvez
seja por isso que o Porto é masculino e Lisboa feminino, para que a dualidade
do “universo” funcione e possamos progredir em equilíbrio. Bloga-me isto!