domingo, junho 09, 2019

O fim da Dualidade





A dualidade do universo é um conceito que me agrada racionalizar, como forma de explicar o equilíbrio do que nos rodeia. O Yin e o Yang, o Bem e o Mal, a Ordem e o Caos, o Masculino e o Feminino, a Matéria e a Anti-Matéria, e por aí fora. Podemos ter as duas forças que são opostas, mas que são complementares em manter a simetria e a harmonia do visível e do invisível.

Durante muito tempo sentia que essa harmonia existia no nosso país, ao peso que historicamente Lisboa tem nas nossas vidas, o contra-peso do Porto para o balancear. O Absolutismo de Lisboa tinha sempre o Liberalismo do Porto. Os Nobres de Lisboa tinham sempre os Burgueses do Porto. Receio que esse equilíbrio não exista mais. Lisboa conseguiu finalmente, ao fim de muitos séculos, silenciar o Porto e tornar-se absolutista. Em todo o espectro da nossa vida quotidiana somos confrontados com o peso da capital, quer seja politica, cultural, financeira, económica, judicial e até desportiva. A camisa de forças tornou-se tão apertada que conseguiu estrangular a força do Porto e a atitude das suas gentes. A famosa “guerra” Norte-Sul acabou e foi oficialmente assinado o armistício. E quem perdeu? Na minha opinião foi o país, que ficou subjugado a uma tirania de pensamento único.

O que são feitas das associações empresariais do Norte? O que é feito do peso reivindicativo da câmara do Porto? O que é feito do Bispo do Porto? O que são feitos dos músicos da cidade que batiam o pé? O que são feitos dos jornais que contavam mais do que a declarações da Lusa? Onde estão os presidentes dos clubes que faziam frente aos “campos inclinados”? Onde estão as gentes que abriam a boca para dizer mal de Lisboa? Em suma, onde está o Porto?

A referida “guerra” não era (e continua a ser chamada) saloia porque obviamente não interessa a quem a rotula. Não é saloia porque a verdade não está só de um lado. Não é saloia porque existem uns iluminados na capital e no resto do país, a província, não sabem nem podem saber.

Podemos dizer que a crise agravou o centralismo e foi, sob a alçada da intervenção externa, que os poderes se concentraram mais no epicentro da própria catástrofe. A solução ao problema foi dar ao problema ainda mais a solução. E assim, a anorexia espalhou-se pelo país, engordando a capital. Pena que o contágio da doença tenha afectado também o Porto, porque o país precisava dele mais do que nunca. No fundo, foi o fim da dualidade.

Talvez seja por isso que o Porto é masculino e Lisboa feminino, para que a dualidade do “universo” funcione e possamos progredir em equilíbrio. Bloga-me isto!