sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Desatino...


Fui desafiado a falar sobre um tema: "Amigos coloridos".

O desafio vai soar mais a desafino, porque deve-se falar com propriedade, como quem tem experiência e, de facto, sou bem ignorante nessas amizades. Quanto mais seriam "Amigas coloridas", mas mesmo nessas, o número de sabedorias são zero! Portanto, de desafio, passou para desafino, acabando em desatino.

Agora que me apresentei, devo dizer que acho curioso o tema. Sobretudo, pela evolução que sofremos ao longo da vida. Em bebé, imagino que partilhar a chupeta será o apogeu; na infância, o mais perto será brincar com os Molins; em adultos, só se o latex tiver sabores; e por fim, na velhice, o mais colorido que se arranja é o "azul"...

Imagino que além da cor, essas amizades deveriam ser também classificadas pelo brilho. A sua intensidade ordena as prioridades, o que poderá facilitar se forem várias essas relações. Claro que a classificação "A minha amiga colorida brilhante" ou "A minha amiga colorida baça" é um pouco mais longa, mas também damos rigor ao conteúdo.

Como na fotografia e na televisão, também aqui me parece normal este progresso. A passagem do preto-e-branco para a cor foi revolucionária. Contudo, o próximo passo na evolução é nitidamente um retrocesso e julgo que não irá ocorrer. Prevejo que a era da digitalização seja um fracasso. Já Cícero dizia: “A amizade começa onde termina ou quando conclui o interesse”.

Para rematar, o nobel Tagore deveria ser um adepto deste tipo de amizade. Deixo à consideração umas palavras ditas por ele:

“A verdadeira amizade é como a fosforescência: nota-se melhor quando tudo ficou às escuras”…

Palavras para quê. Bloga-me isto!

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Ah que dia!





Há dias assim…

Há dias em que as varandas na nossa vida não são locais de observação, mas de abissofobias. Em que o frio lá fora não é vicissitude da meteorologia, mas das correntes de ar da nossa alma. E a música que ouvimos não é o Bolero de Ravel, mas o Requiem de Mozart.

Há dias que são anos, longos, vagarosos e pesados, como uma gravidade em Júpiter. Como o tempo em Einstein.

Canta-me, ó musa da fortuna. Traz-me, nos teus braços dourados, o toque de Midas, servido numa bandeja. Sopra-me. Insufla-me o peito com o doce ar do teu bafo. Dá-me a beber a água de Lete, para que me embriague nela, e amanhã seja outro dia. Bloga-me isto!



sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Ode ao Vinho


Ambrósia dos deuses.
Néctar fermentado do fruto da videira.
Por ti, vomitamos a verdade. Por ti, vagueamos num limbo, algures entre a razão e a imaginação. Contigo, regozijamos a alegria e a tristeza, afogamos as lágrimas e as gargalhadas, prevemos o futuro e perdemos o rumo.
Baco acolheu-te, abençoou-te, brindou-te contigo próprio, despojando-nos dos nossos corpos elevando a nossa alma. Saúde aos nossos copos.
Exilir da juventude, sem similitude, na atitude que provoca.
Branco da pureza, tinto da natureza, do sangue arterial que rola e circula nas gargantas, pândegas, ou apenas festivas.
Da cor do limão, da cor da palha, sua graciosidade espalha. De violeta pálido a rubi intenso, o universo imenso, emerso no cálice opulento.
Aroma a frutos, silvestres, secos, frescos, o bouquet servido no frio do frappé.
Com carvalho, gaulês ou luso, muita, pouca tosta, para quem gosta. E no fim, a adstringência no encorpado longo, talvez, mas sempre a sensação de que melhora, que abre, e que nos espera, no leito, a doce azia, até à próxima epopeia, deste deleite que é o Vinho. Bloga-me isto!