terça-feira, abril 07, 2009

Democracia...

Democracia. Do grego Demokratia que significa “poder do povo”. Com boa razão deriva a palavra do grego, já que foi na Grécia antiga que este sistema de governação foi desenhado. Trivialidades. Tinha de começar por algum sítio e comecei pelo princípio, passo o pleonasmo. Em verdade, a Grécia antiga deu-nos o Sócrates e a nossa democracia deu-nos outro Sócrates, com algumas (grandes) diferenças, pois de registos não irão faltar sobre o mais novo e acho que a cicuta não estará nas bebidas que experimentará. Mas não irei falar desta personagem, mas sim do sistema que o debitou. A democracia.

Sendo a democracia o “poder do povo”, em boa verdade estamos todos responsabilizados pela sua qualidade, seja ela boa ou má, segundo a nossa opinião. Porque mesmo que ela seja má, ninguém poderá dizer porque não é culpa sua, salvo que a democracia não seja o seu sistema de governação preferido. Mas aí, também, atura a democracia reinante porque quer, não faltando outros países que tenham outros sistemas que se aproximem mais dos seus desejos. Se há coisa que a globalização trouxe foi oferta de tudo o que existe. Resumindo esta ideia, a democracia deverá ser um somatório de vontades, de pessoas livres, que escolhem e acatam a vontade da maioria. Outra trivialidade.

Sendo assim, porque é que, de uma maneira geral, os gestores deste sistema, os políticos, estão tão descredibilizados e, por inerência, ajudam a que se sinta um ambiente de insatisfação perante a democracia? Não sou eu que o digo. Uma constatação evidente é a clara abstenção das eleições. Ninguém sério poderá dizer que, quando repetitivamente, a abstenção está acima dos 30% nas legislativas (35,74% em 2005, mais de um terço da população) que é normal. Um terço do nosso país não sabe o que quer? Não tem opinião? Eu interpreto mais pelo lado pragmático do drama: não vão votar porque não sentem vontade nem incentivo ao exercício do acto. São os comodistas, poderão dizer, mas são a face visível do problema da descredibilização na actividade política. Quando existe motivação, esta percentagem de comodistas é residual. É a percentagem daqueles que realmente não sabem nem tem opinião. Mas creio que as pessoas sabem o que querem, e quando a paixão ardente lhes trespassa o coração, a verdadeira motivação, são como chamas em floresta seca. Alastra e arrasta multidões. Temos, por certo, ilustrações disso. Quem não se lembra do entusiasmo do país à volta da selecção na final do europeu em 2004. Dificilmente alguém sentia-se indiferente ao ambiente, mesmo que não goste de futebol. Isto é assim quando há uma visão, uma missão e um objectivo em que estejam todos alinhados. É imparável.

É sobre a resposta à pergunta formulada que me proponho aqui escrever.

O observador comum, em que me incluo, é quase diariamente confrontado com situações que em nada dignificam a democracia. A suspeição de corrupção sobre os decisores, o enriquecimento ilícito de políticos, a impunidade de quem é poderoso, entra-nos pelos olhos dentro a uma velocidade quase impossível de assimilar. Não falo da questão que um jornal diário tem hoje em dia mais informação que um cidadão do século XVIII teria numa só vida. Refiro-me a que são tantas que é impossível aceitar todas. São tantos os casos que, para mantermos alguma sanidade e confiança no sistema, ignoramos algumas. São tantas que torna-se normal e corriqueiro. E, lentamente, como gota a gota em pedra dura, vamos desmoralizando, definhando, quebrando. Baixamos os braços porque conhecemos a história de D. Quixote e sabemos que estamos a combater moinhos de vento, por conta duma Dulcineia que nos zomba. Cavaleiros da triste figura.

Estarei a ser exagerado? Estarei, por ventura, a dar preponderância ao negativo em detrimento do louvável? Lembro-me quando Cavaco Silva era primeiro-ministro, o que de mais grave se lhe apontou (em termos ilícitos) era uma suposta remodelação da casa de banho. Não vou fazer mais comparações. Mas há, nitidamente, hoje em dia um degradar de respeito e de confiança da figura do estado e das suas instituições que o constituem.

O que acabo por observar é que esta conspurcação acaba por ser como um mau cheiro a que nos habituamos. Não é difícil encontrar gente boa que vota em políticos corruptos porque “rouba mas, ao menos, faz alguma coisa”. A capitulação dos nossos próprios valores perante “o mal menor”. É uma classe média que se verga interiormente e isso resulta no patamar desclassificado que valorizamos os nossos políticos, e depois a democracia por tabela. Jamais será possível ver uma democracia saudável com uma classe média despojada, quer de valores materiais, quer de valores morais. E, na minha opinião, é isso que se passa na nossa classe média. Desencantamento. Desapontamento. Enfadamento. Atraiçoamento.

Como foi, sabiamente, aqui comentado por uma ilustre visitante “Para que o mal vença, basta que as pessoas boas não façam nada”. Nada mais. É tempo de fazermos alguma coisa. É tempo de sair do nosso confortável sofá e fazermos algo mais que “zapiar” os canais quando aparecem os políticos a falar. É tempo de estendermos as nossas conversas de café para auditórios mais vastos. É tempo de sermos mais interventivos e não deixarmos que usurpadores levem a nossa lisura e orgulho. O que ficará após nos levarem essa centelha de amor-próprio que nos faz ir votar? Não temos que nivelar por baixo quem nos representa, rebaixando-nos.
Este desidrato meu é, nada mais, nada menos, o que me vai na alma. O meu mea culpa da situação existente. Cada vez que hesitei em me tornar mais interventivo, ajudei a que outros, sem escrúpulos, tivessem a oportunidade de rapinar.

Por isso, daqui clamo, ó gente da minha terra, ó gente boa e trabalhadora, de todas as classes sociais, façamos mais pela nossa democracia. Unamos esforços, dentro do nosso círculo de influência, por tornarmos células de grandeza e de exemplo.

Deixo-vos duas pérolas de Churchill:
"A democracia é a pior forma de governo, exceptuando todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos"
“Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos."

Palavras para quê! *Bloga-me isto!

1 comentário:

Anónimo disse...
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