segunda-feira, novembro 13, 2006

Quem matou a Política?


Houve alturas em que me entusiasmava a Política. Vivia intensamente os seus meandros, as suas contradições, as suas batalhas. Dum lado estava o bem, e do outro, o mal. Apaixonava-me as discussões ideológicas, que acalorava no confronto próximo de eleições. Houve um tempo, em que as secções mais interessantes dos jornais eram as políticas e a dos artigos de opinião. Em que ficava furioso quando a demagogia era latente, e radiante quando a crítica era favorável. Respirava-a. Nutria-a e ruminava-a. Tinha orgulho de algumas das minhas primeiras palavras em criança terem sido de partidos políticos (e logo dos correctos), e de que tinha lido “A República” de Platão, “O Príncipe” de Maquiavel e “A utopia” de Thomas More.
Havia um tempo! Mas não há mais.

Acabou-se o encanto. O fastio tomou o lugar da paixão. A fleuma ao fervor. Pergunto-me muitas vezes o que ocorreu. Terá sido o peso da idade, a maturidade de ver cinzento onde antes só havia branco e preto? Terá sido o laxismo, o conformismo da vida sedentária, a primazia de outros motivos?
Minha resposta inclina-se por outro lado. Tal assunto que me enchia, e que me deixa, hoje em dia, nostálgico, não podia ser abalado pelos ventos da maturidade. Nem me fazia sentir agerásico.

Não! Acho que são os protagonistas desta Política actual. É uma era em que a demagogia e populismo de esquerda tem mais protagonismo, em que se faz recauchutagens de velhos senis e gastos, em que os complexos de Abril continuam enraizados, numa imprensa dominada por uma facção, em que o imediatismo da nossa sociedade impõe políticas a curto prazo, que quem é bom não se quer imiscuir com deputados e ministros de currículo parco e sinuoso, de camaradagem em vez de capacidade, de populismo em vez de ideologia.
Não há quem me arrebata para dentro da carruagem de novo. Não espero D. Sebastião, mas também não me sinto Velho do Restelo. Com raríssimas excepções, a cena política nacional veste-se de fato cinzento. Pena é que os cérebros também não o sejam.

Hoje estou numa cadeira incómoda. Não me sento em nenhuma mesa. E sinto falta disso. Não me repasto numa iguaria de ideias, regada com combatividade e servida quente. Só vejo buffets de frios, acompanhados de coca-cola.

E sinto-me responsável por isso! E por tal, Bloga-me isto!

1 comentário:

mare disse...

A política serve-se fria. Sem paixão de um lado e do outro da barricada. Somos servidos, na grande maioria dos casos, por incultos, incapazes e demagogos. Já não há homens providenciais. Os tempos são outros...