sexta-feira, outubro 20, 2006

Cultura plastificada


Como sempre, estou muito atento ao que se passa na minha cidade, fácil de se verificar, como sendo a mui nobre, invicta e sempre leal cidade do Porto.

E como tal, não posso deixar de comentar o que se passou no teatro Rivoli. No entanto, para o comentar, terei que descer uns degraus para o cerne da questão, ou seja, a cultura. Não a dos campos (excepto dos Elísios) mas sim o vulgo para expressões de arte.

Confesso, e já o referi algures, que sou um gajo básico. Mas nem acho que seja muito diferente dos comuns mortais que, lado a lado, partilho o espaço deste bonito país que é Portugal, e sendo um pouco mais arrojado, o dito mundo Ocidental. Digo isto porque me confunde ver certas “expressões” de arte. Ponho entre aspas para dar um sentido mais lato à palavra. Dou um exemplo. Estava a ver as notícias num certo canal quando, a propósito de certo certame “artístico”, vi uma jovem a regurgitar papel, que tinha estado a enfiar na boca. Não sei se tive azar de apanha-la no meio do almoço (as fibras fazem bem) e da moçoila não ter gostado da gramagem ou da cor do papel, mas a verdade é que associei aquilo ao que alguns seres chamam arte. Não seres mortais (como eu), mas seres “Que da lei da morte se vão libertando” à custa destas “expressões” (podem imaginar a expressão da cara da artista). Acredito, piamente, que aquilo tenha alguma mensagem, mas se é atractivo para o povão, tenho as minhas dúvidas.

Exemplo número dois. Estive certo dia numa exposição de pintura, no museu de Serralves, e no centro duma parede estava um quadro branco. Ao longe, até pensei que estava a ver desfocado. Por isso, aproximei-me, colei o meu nariz para ver se ao menos haveria alguma coisa microscópica naquela tela, mas nada encontrei. Branco. Como possivelmente a inspiração do artista naquele dia, ou como a minha imaginação na maior parte das vezes. Mas daí a baptizar a obra (porque de certo foi um acto de obrar) e depois a dar a ver ao mundo, vai um grande passo (para ele foi pequeno porque não precisou de fazer muito).

Resumindo, manifestações como estas são para um número muito (mas mesmo muito) pequeno de pessoas que, de uma forma geral, e talvez por terem fumado umas ervinhas a mais, acham que aquilo é arte, e estão dispostas a pagar para ver. E é aqui que tudo se resume. O pagar!

O que tal grupo teatral Plástico pretende é impedir que o nosso Rivoli seja gerido por uma empresa privada. Isso, para estes artistas, é mau. Claro que os compreendo. Ter um privado a gastar dinheiro público, é pecaminoso. Lucro nas artes, sacrilégio. Tentar que os programas de espectáculos sejam populistas (porque muita gente significa muitas receitas), que infâmia! Assim como compreendo que foi desmesurada o envio de 100 polícias para os tirar da sala. Pois eles só estão habituados a ter à volta de 50 pessoas no público (com uma boa casa), foi nitidamente desproporcionado. Mas lá conseguiram ter alguma publicidade, a “Rivolição” não passou mais de uma reciclagem destes “plásticos”, e no próximo espectáculo já terão, em vez de 50 pessoas, mais umas dez, ganhos aos polícias lá que foram, pois viram por lá umas miúdas bem boas.

É triste que os artistas, apoiados por uma classe de pseudo-intelectuais, continuem a fabricar uma espécie de arte para alguns, e reclamem apoios para subsistirem. Para isso, existe (infelizmente) o rendimento mínimo. Se querem ter apoios, encham salas, museus, ruas, encontrem nas pessoas comuns lugar onde desenvolver a vossa veia criativa, e para aqueles que gostem de ver “vómitos de papel” dêem-lhes, de vez em quando, uma borla, para ficarem satisfeitos.

Para mim, fico satisfeito por saber que na câmara tem alguém que acha que dar subsídios a indivíduos, para se masturbarem nas suas obras, é desperdício.
Para eles, o meu Bloga-me isto!

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